Foi desejo do Lorde Buddha que a Roda do Samsara fosse desenhada na entrada dos templos. Ela ilustra o processo de nascer no samsara. Samsara ou “existência cíclica” é o contínuo círculo de nascimentos que os seres tomam baseado no não entendimento da natureza da realidade. Estes nascimentos são sempre impregnados de sofrimento. Através da meditação neste processo, a pessoa pode se libertar dele. No Centro da roda estão um porco, uma cobra e um pombo, que simbolizam a ignorância, aversão e desejo, respectivamente. Cada um está devorando o próximo e, portanto, formando um círculo contínuo. Três aros concêntricos envolvem o centro.
O Primeiro Aro exibe seres que morreram e estão em um estado intermediário, migrando ou para reinos mais altos ou mais baixos. Isto é simbólico do karma virtuoso ou não virtuoso, respectivamente. Se alguém vai tomar nascimento nos reinos mais baixos por ter se envolvido em ações não virtuosas, no estado intermediário, o ser experiencia escuridão e viaja para baixo, de ponta-cabeça. São retratados como amarrados em grilhões e sendo puxados para baixo por servos aterrorizantes dos reinos mais baixos. Na verdade, são as ações negativas deles que os dragam. Se alguém vai nascer nos reinos mais altos, devido ao karma virtuoso, várias experiências podem surgir: na escuridão pode ter uma luz da lua, pode parecer que o sol está atingindo uma montanha nevada ou pode parecer que a pessoa está viajando reto para frente ou para cima.
O Segundo Aro tem cinco seções: a metade superior é dividida em duas partes e a metade inferior em três. A parte superior esquerda retrata os deuses e semideuses, com os deuses desenhados acima e os semideuses abaixo. A parte superior direita representa o mundo dos humanos. Aqueles seres com nascimentos humanos preciosos são mostrados apreciando prosperidade nascida das joias que realizam desejos, árvores que concedem desejos e da vaca benevolente. Os sofrimentos do nascimento, velhice, doença e morte são também ilustrados da maneira usual. A seção abaixo dos deuses retrata os animais, e a que está abaixo dos humanos mostra os seres do reino dos fantasmas famintos. A seção central da metade inferior mostra o mundo de Yama, os reinos infernais.
O Terceiro aro e mais externo exibe os doze elos da originação dependente, começando no topo e se desdobrando em sentido horário. Ignorância, o primeiro elo, é simbolizada por uma mulher cega apoiando-se em um bastão para caminhar. Como uma mulher cega que vagueia sem destino, baseada em ignorância, os seres vagueiam pelos três reinos experienciando vários tipos de sofrimento. Formação kármica, o segundo elo, é ilustrado por um oleiro fazendo um pote. Como o oleiro cria diferentes vasos girando sua roda e modelando barro com suas mãos, os seres criam vários tipos de nascimento no samsara baseados em suas ações virtuosas e não virtuosas. Consciência, o terceiro elo, é simbolizada por um macaco. Como um macaco correndo de um lado para o outro dentro de uma casa com seis janelas e olhando para fora de cada uma delas, a consciência olha para fora das seis janelas dos seis órgãos sensoriais e tem várias experiências.
Nome e forma, o quarto elo, é simbolizado por um homem subindo em um barco. Como um barco transportando um viajante, nome (mente) chega até aqui vinda de um nascimento prévio, e forma (o óvulo e o espermatozoide dos quais o corpo se desenvolve) é o suporte para aquela consciência.
Os órgãos dos sentidos, o quinto elo, são similares a uma casa vazia sem habitantes. À medida que os cinco órgãos dos sentidos (como a casa) se formam, a fundação para as faculdades tornam-se completas, mas cinco consciências (o habitante ausente) ainda estão para se manifestarem.
Contato, o sexto elo, é assemelhado a um homem e mulher se beijando. Para um homem e uma mulher se beijarem, eles precisam se conhecer. Se eles não se conhecem, não é possível que isto aconteça. De modo similar, com o contato, o objeto dos sentidos, o órgão do sentido, e a consciência do sentido vêm todos juntos.
Sentimento, o sétimo elo, é semelhante a um homem com uma flecha penetrando em seu olho. Como o surgimento instantâneo do sentimento e sofrimento quando uma flecha atinge o olho de alguém, quando se encontra alguma experiência, há um sentimento imediato de prazer, desprazer ou indiferença.
Desejo, o oitavo elo, é como uma pessoa tomando álcool. Quando alguém que aprecia álcool bebe somente um pouco, ele não fica satisfeito. O desejo de beber mais apenas aumenta. Devido ao desejo, nunca estamos satisfeitos quando desfrutamos das coisas que desejamos – o desejo somente fica mais forte.
Avidez, o nono elo, é como um macaco pegando uma fruta. Como um macaco subindo em uma árvore e pegando uma fruta, nós contamos com o sentimento (aqui, o sabor da fruta comida previamente), e o macaco pegará esta fruta que ele vê e a comerá. Por conta da avidez, nós temos grande interesse em obter objetos do nosso desejo.
Vir-a-ser, o décimo elo, é semelhante a uma mulher grávida. Como uma grávida que está para dar à luz uma criança, o vi-a-ser é a força kármica que impulsiona uma pessoa para sua próxima existência. O vir-a-ser é o que cria nova existência. Nascimento, o décimo primeiro elo, é ilustrado por uma criança realmente nascendo. Como uma grávida dando à luz, existências futuras na verdade começam com o nascimento.
Velhice e morte, o décimo segundo elo, é ilustrado por um homem velho e um corpo que está sendo carregado. Assim como nós envelhecemos e nos tornamos decrépitos, somos atormentados por estes sofrimentos. Quando finalmente morremos, nossos corpos são levados para um cemitério.
Esta roda está presa pela boca, pés e está no colo de Yama, o lorde da morte, personificado como um terrível rākṣhasa vermelho. Sem exceção, todos os que nascem nesta existência devido ao poder do karma e às aflições, futuramente cairão sob o lorde da morte, ou seja, morrerão. E enquanto as causas do samsara não forem abandonadas, o perpétuo ciclo de nascimento, velhice, doença e morte, juntamente com os sofrimentos, continuarão a ser experenciados. Portanto, seres são retratados circulando em torno de uma roda, do pico da existência aos mais profundos infernos e subindo novamente.
Fora da Roda – acima e para a direita – está uma lua branca, redonda, ou um espelho, que simboliza a mandala do nirvana. Então para a direita ou esquerda disto, de qualquer forma que seja conveniente, está uma imagem do bhagavan Buddha, encarando o círculo branco, com o dedo apontando em direção a ele. O simbolismo é: enquanto os seres não atingirem a paz, o estado do nirvana, eles nunca estarão libertos do sofrimento do samsara.
Portanto, os seres devem empenhar-se para praticar os meios de atingir a pacificação, o estado do nirvana. Abaixo do círculo branco, o seguinte deve estar escrito: A pessoa deve ser diligente, retirar-se, e entrar nos ensinamentos do Buddha. Como um elefante esmagando uma cabana de barro, Derrotará o Senhor da Morte. A pessoa que treina com total atenção Na conduta do Vinaya Dharma Abandona totalmente o nascimento samsárico e traz o sofrimento a um fim.
Em resumo, a Roda do Samsara é uma apresentação simbólica das Quatro Nobres Verdades que ensina como nós causamos e revertemos o sofrimento.
Primeiro, a Verdade do Sofrimento: entre todos os seres dos seis reinos, aqueles dos três reinos mais baixos simbolizam o sofrimento do sofrimento. Os deuses do reino do desejo e humanos simbolizam o sofrimento da mudança. E os deuses do reino da forma simbolizam o sofrimento onipresente das formações kármicas.
Em segundo, a Verdade da Fonte: há duas fontes principais: 1) as aflições, simbolizadas pelo pássaro, porco e cobra no meio da roda, e 2) ações virtuosas e não virtuosas, simbolizadas pelos seres ascendentes e descendentes no primeiro aro.
Em terceiro, a Verdade da Cessação: o círculo branco, similar a uma mandala de lua, simboliza a pacificação do nirvana.
Quarto, a Verdade do Caminho: tanto o Buddha apontando para a lua e os versos escritos abaixo simbolizam a Verdade do Caminho.
Desde tempos sem início, como o giro da roda de uma carruagem, os seres têm rodado no samsara devido à confusão do ciclo dos doze elos da originação dependente. Logo que isto esteja quebrado, que todos atinjam a perfeita budeidade.
*Baseado em um ensinamento de Khenpo Lodro Donyo Rinpoche sobre Originação Dependente.
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